I don't wanna talk... about the things we've gone through... though it's hurting me... now it's history...
Era isso que me vinha na cabeça quando alguém falava "aba" perto de mim.
PORÉM, em 2023, meu psiquiatra começou a investigar autismo e, no começo de 2024, veio a confirmação, após uma avaliação neuropsicológica. Várias coisas rolaram desde então, e a mais recente foi o início do meu tratamento em terapia ABA.
Sim, eu sou um autista adulto com diagnóstico tardio que está, há alguns meses, fazendo terapia ABA por opção.
E esse ABA significa Applied Behavior Analysis, e não um acrônimo para Agnetha, Björn, Benny e Anni-Frid.
Nas palavras de uns pesquisadores do Canadá,
"Em sua essência, a ABA é a prática de utilizar os princípios psicológicos da teoria da aprendizagem para promover mudanças nos comportamentos comumente observados em indivíduos diagnosticados com TEA. Ole Ivar Lovaas desenvolveu um método baseado nos princípios da teoria do condicionamento operante de B. F. Skinner na década de 1970 para auxiliar no tratamento de crianças diagnosticadas com TEA (ou "autismo" na época), com o objetivo de alterar seus comportamentos para melhorar suas interações sociais"1
Pois bem, esse Lovaas achou de bom tom usar esses mesmos princípios pra inventar a "terapia de conversão", que obviamente não funciona, mas fez muitas vítimas. E, pelo que se sabe, lá nos EUA os autistas sofrem muito nas terapias ABA, que são baseadas nessa teoria do Skinner, o cara do behaviorismo (porcamente falando, ele acredita que todos nós somos como um cachorro que, se apropriadamente treinado, pode deixar de destruir seu sofá e fazer amor com a perna das visitas - essa não é uma explicação científica, por favor, se informe apropriadamente aqui2)
Os autistas dos EUA, aliás, falam que ABA é terapia de conversão neurotípica.
Eu acho uma brisa.
Vejam, quando eu comecei a passar com meu atual psiquiatra, eu tinha acabado de ter uma crise fudida, foi horrível. Minha vida desmoronando. E mesmo hoje, tendo acesso a várias adaptações, suporte e tratamento medicamentoso, eu ainda sofro com coisas como:
Não saber controlar impulsos como gritar com as pessoas (em especial as que eu amo)
Ter muita seletividade alimentar e conseguir comer poucas coisas (o que prejudica muito minha socialização e saúde)
Bloqueios enormes na hora de sentar e escrever minha dissertação do mestrado
Dificuldade em estabelecer prioridades e me comunicar bem com pessoas no trabalho
Não tinha remédio que me ajudasse com isso. Não tinham horas de psicanálise, TCC ou gestalt que ajudassem.
Mas adivinhem o que FINALMENTE tem me ajudado muito com tudo isso? Pois é, ABA!
Não estou falando que outras terapias não tenham ajudado, pelo contrário. Eu sou uma pessoa emocionalmente muito bem resolvida, diria até que tenho alguma inteligência emocional, e dou muito crédito disso aos anos de psicanálise, e ao um aninho de gestalt que eu fiz.
Porém, meu sofrimento não era necessariamente psíquico. Com todo respeito, não é porque eu tenho inveja de pau que eu não como brócolis. Não é porque eu vi meus pais brigarem que eu não sei me comunicar no trampo. Claro, tudo isso me causou outros problemas, que eu acredito já ter resolvido. Meu babado é outro.
E o método que minhas terapeutas (são duas, porque faço dois tipos de terapia diferente) adotam tem me ajudado muito a abordar minhas dificuldades de outra forma, agindo de maneira mais efetiva pra solucionar meus problemas.
Cara, em uma consulta, eu consegui voltar a comer um certo alimento sem sentir enjoo!
Existe um boato meio mamadeira-de-piroca de que terapia ABA "força você a olhar no olho". Eu, pessoalmente, nem olho no olho da minha terapeuta, e até agora isso não foi pauta de nenhuma sessão. Por outro lado, enquanto falávamos de uma determinada situação que eu passei, ela já me disse que eu não deveria me preocupar com pessoas me interpretando erroneamente quando eu tivesse sido espontânea, porque aquele era o meu jeito.
Naquela hora, me senti segura e respeitada. Soube que aquela profissional entendia a diferença entre um traço de personalidade e um hábito prejudicial, entre algo que eu de fato precisava mudar pra melhorar minha qualidade de vida e algo que era problema dos neurotípicos que não sabem lidar com o diferente.
Então, quando vocês virem alguma crítica a respeito de ABA, identifiquem se vem de relatos ocorridos no Brasil, de fontes confiáveis.
Não que a @ lestatwho no leaflet seja uma fonte confiável, mas aí você pode escolher se quer acreditar em mim ou não, fique à vontade kkkkk
Se tiver alguma dúvida ou curiosidade sobre terapia ABA para adultos no Brasil, pode me mandar. Tô pensando em fazer um vídeo a respeito.
1. Gitimoghaddam M, Chichkine N, McArthur L, Sangha SS, Symington V. Applied Behavior Analysis in Children and Youth with Autism Spectrum Disorders: A Scoping Review. Perspect Behav Sci. 2022 May 18;45(3):521-557. doi: 10.1007/s40614-022-00338-x. PMID: 36249174; PMCID: PMC9458805.
2. Teorias da Aprendizagem - Behaviorismo. Publicado pelo canal UNIVESP. Disponível em: https://youtu.be/SfwaLmh_8uA?si=0x5k95ldtOCohYFr. Acesso em: 7 ago. 2025.